domingo, dezembro 28, 2014

Duas pernas.

É tentador ... a cada vez que a gente coloca os olhos nas nossas pernas e abre os ouvidos. Sim, infelizmente o ouvido ouve muito bem a balançar do mundo, balanço agitado, apertado, aquele vermelho que te persegue em em sintonia afobada. A alma sente também o som. Não sei se melhor seria se não ouvisse... porque saber que este som coloca o teu coração sobre um prato frio?

Por um lado o coração é silenciosamente removido, por outro, não se dança.. Será que o som que Pitagoras outrora escutou foi de longa data esquecida?

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"Porque eles sorriem?" eu pergunto as minhas pernas.

"Tolo!  O que fazes aí imprudente! Não ouvistes o que foi dito aos antigos? O décimo primeiro: 'Não confiarás!' porém tu achas que vais achar um filho de Adão ou uma filha de Eva em meio ao mundo? Não sabes que pernas dançam conforme a dança deste mundo e se assopram conforme as potestades?" as pernas falam.

Continuei olhando. Nem sequer levantei os olhos para ver se havia sorriso nas suas faces, mas por algum motivo eu via os sorrisos sem alegria.

"Desgraçado! Amaldiçoado fostes quando te tornastes queixo caido! Ou achas que estes agouros te vem pelo muito andar?" continuaram as minhas pernas.

As minhas pernas se lembraram de algo de longa data esquecida. Fazia perfeito sentido! Acaso o skywalker em mim não é o mesmo sinal de águia visto em minha infância?

...

Não aguentei o silencio e respondi, sem saber se era eu ou profeta: "Tens razão! Porque me orgulhava de ser o queixo caído? Sabedoria havia naquela criança! Muito antes de compreender os significados de 'o teu desejo será contra ti'  alí te tornastes o queixo caído. Como um profeta destemido previstes a a tua própria maldição! Melhor seria se nunca tivesse visto o teu agouro, ou por acaso está enganado aquele que diz 'com o muito saber vem o muito enfado'? Deves decidir, ou não o saber ou o não entregar! Mas pela tua decisão escolhestes a maldição!".

Levantei a cabeça, vi livros, homens e mulheres buscando aquilo que não sacia. A dança do mundo continuava e eu ... só olhava.

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