Meu corpo balançava com as crateras na pista enquanto o jipe prosseguia na estrada irregular.
No carro outros peregrinos me acompanhavam, atrás de nós seguia o jipe conduzido pela Suzana. Todos os peregrinos estavam sujos com a poeira do caminho que se acumulava em todo canto. Íamos a todo vapor!
A paisagem que nos cercava era de um bosque de pinheiros frondosos, por todo lado se via mata, e a estrada seguia seu caminho sempre em frente.. para trás ficavam as marcas dos pneus e a poeira que se levantava. Apesar de bonita sabíamos que o bosque nos apresentaria algum perigo se nos descuidássemos.
Um edifício despontava à esquerda da estrada, ele se mostrava estranhamente familiar aos meus olhos. Minhas mãos estavam firmes no volante quando as imagens de minha infância foram recapituladas diante dos meus olhos, memória trazida pela silhueta do edifício. Sim, era eu pequeno nas mãos de minha mãe, cercado pela segurança dos de minha igreja. Lá dentro parecia que nada poderia me atingir, como poderiam os mortos entrarem na segurança daquele forte? Todos eram treinados e bem alimentados, naquele ambiente.
Onde estava eu agora?.. na estrada.
Aquela cena de minha infância só me traria um contraste para os perigos e inseguranças que vivemos na estrada. Aquele mundo não existe mais, são só memorias. Hoje o peregrino Ivo David caminha, vasculha por alimento e teme por sua vida. Não só... por enquanto.
O edifício se aproximou.. diminuímos a velocidade. Era de tijolos vermelhos, parecia uma escola abandonada ou seria uma igreja? A estrada passava pelo pátio onde haviam tanques enormes que o jipe não sairia se não fosse bem conduzido. Todos olhavam atentos para aquele local..
"kak kakka ... pof" foi o som que o motor fez subitamente parando em frente aos tanques. O jipe de trás parou brevemente para ver de que se tratava nosso problema.
"Saudações peregrinos! Entrem!" Um homem de terno bradava em vos alta do pátio. Haviam outros armados ao redor dele e por mais convidativo q fossem as suas palavras nos sentimos ameaçados. "Entrem irmãos e encontrem descanso na casa do Senhor!" gritava o pastor (sim era um pastor e suas ovelhas).
"Devemos prosseguir o nosso caminho!" eu respondi "Somos peregrinos e estamos retornando para a casa do Pai!". O nosso grupo estava temeroso, o jipe de trás estava com o motor ligado pronto para acelerar em caso de qualquer problema. A minha jipe e os que comigo estavam nada podia fazer...
"Esta é a casa do Pai! Venham e vejam, há muitas moradas!" Respondia o pastor enquanto os seus nos cercavam. Haviam outros armados no alto do edifício. Aparentemente era só um sinal que pronto, estávamos mortos, rendidos nas mãos deles.
"Não queremos ficar pastor, é no caminho que está o nosso chamado." lhe disse... Eles se aproximavam lentamente. "Não queremos confusão, mas vcs não podem nos forçar a ficar aqui e se seguem a vontade do Pai, não podem nos matar ou roubar do pouco que temos." A tensão se acumulava, nós estávamos totalmente rendidos, quase sem armas, carro estragado e cercado por "ovelhas" armadas e treinadas em seu pátio.
O pastor tinha tudo sob controle, levantou uma mão em sinal para os seus.. "não podemos matá-los, mas eles podem.." abaixou sua mão quando um sirene soava forte. O som era como destes de intervalo de escola amplificado pelo sistema de som da igreja. Um holofote destes de estádio do futebol se acendeu iluminando o pátio. Tudo chamava atenção para os mortos.
Imagens de minha infância voltavam.. Maquiavelicamente aquilo fazia sentido. Não era perfeito aquele plano? Eles não podem matar, mas os mortos podem! Eles não podem roubar os vivos, mas aos mortos podem! Estavam treinados e bem alimentados as custas de aterrorizar peregrinos e deixá-los serem devorados pelos mortos... e quem sabe algum morto não lhes traga alguma surpresinha? Um relógio ou talvez um dente de ouro?
Era loucura ficarmos ali.. o jipe da Suzana saiu em disparada quando tudo ficou devagar e minha mente. Eu ignorava os tiros que eram trocados, os amigos feridos e o equipamento que ficava para trás no carro. Naquele momento em nosso carro corríamos cada um por sua vida enquanto os mortos esfomeados caminhavam lentamente em direção do som e dos holofotes. Enquanto isso... os irmãos atiravam em nós.
A escuridão da noite que tomou aquele lugar durante minha discussão com o pastor foi providencial para nos escondermos. A minha corrida me levou para um deposito escondido atrás da igreja. Eu tateava para entender o ambiente. Na estrada eu já tive fome, medo é uma constante e agora eu peregrino Ivo David estava pela primeira vez cego. Me consolava saber que os holofotes atraiam os mortos e a sirene abafava os sons dos meus passos.
Um morto me viu. Seria aquele o meu fim? Onde estavam os outros? (minha consciência voltava) Devem ter se escondido nos bosques.. Com a consciência entendi e vi as dimensões do deposito que eu me enfiava. Agarrei uma estaca que atravessei o morto pelo olho.
De relance troquei olhares com um companheiro escondido no bosque perto de onde estava, uffa! Não estava só.. foi quando um dos "irmãos" nos avistou. Saltaram dois amigos meus dos arbustos e lhe renderam, "Ivo devemos matá-lo?". Perguntaram esperando meu comando, quando lhes disse:
"Não! Deixem-no ir... não somos como eles."
// Fiquei com este sonho na cabeça por um bom tempo. Não sabia o que fazer dele.. ele era simultaneamente tão cheio de significados que não poderia ignorá-lo e simultaneamente cheio de dificuldades para serem compreendidas.
//Peguei estrada de TO para BH final de semana passado e assim tive muitas horas para refletir nesta experiência. Foi quando percebi alguns significados no sonho que não diferem do que que vivi na [Parte 2]. No inicio do sonho estou de carro e bem acompanhado; desta vez a Suzana, uma cristã autêntica da ABU de BH, e o jipe cheio de companheiros representa a minha caminhada de fé em BH que foi bem acompanhado, seguro e rápido.
//Os primeiros problemas que tive no meu carro foi diante dos tanques do pátio de uma igreja. Sim, estes tanques são novamente os tanques batismais onde tive problemas na igreja que frequentei em BH. Em BH fui literalmente julgado perante a Igreja e "condenado" a batizar novamente, foi uma cena terrível para minha caminhada de fé em BH. É neste momento que meu carro quebra e eu não consigo progredir na velocidade que progredia antes.
// As cenas da minha infância bem como os conflitos de "matar ou não matar" são um reflexo dos conflitos internos que tenho vivido em minha fé desde as primeiras crises em BH. Em BH descobri muitas mentiras que foram contadas a mim desde minha infância a respeito de supostas verdade cristãs que "todos devem praticar" e que na pratica poucos realmente praticam. Isso tem gerado em mim uma seria dificuldade de interpretar a verdadeira caminhada de fé.. por isso vi tanta semelhança entre aquela emboscada cristã e minha infância, me vi na situação de ser emboscado e fugir por minha vida e me vi com um "irmão" emboscado e com a oportunidade de tirar sua vida.
// Em BH eu tive a oportunidade de participar de uma reunião de oração de uma igreja presbiteriana no bairro Buritis. Confesso que não conseguia orar em palavras por causa dos meus pensamentos no sonho que se misturavam com meu cansaço, mas la nesta reunião de oração eu me senti bem. Quando eu fechava os olhos para orar eu me via constantemente em um abrigo com mantimentos, cartas e mapas deixados por outros peregrinos. Foi ali que eu consegui ver um pouco melhor o papel da igreja como instituição no caminhar dos peregrinos. De fato a Igreja é quem está no carro com vc na sua caminhada, mas as instituições podem fazer 1 de dois papeis: fazer reféns e prendê-los com ameaças nas suas escolas/templos ou deixar um abrigo aberto com descanso e refugio para passar a noite. No primeiro vc vai estagnar sua caminhada, no segundo vc vai recuperar as forças durante a noite para prosseguir o caminho no dia seguinte de volta ao Pai.
//Peguei estrada de TO para BH final de semana passado e assim tive muitas horas para refletir nesta experiência. Foi quando percebi alguns significados no sonho que não diferem do que que vivi na [Parte 2]. No inicio do sonho estou de carro e bem acompanhado; desta vez a Suzana, uma cristã autêntica da ABU de BH, e o jipe cheio de companheiros representa a minha caminhada de fé em BH que foi bem acompanhado, seguro e rápido.
//Os primeiros problemas que tive no meu carro foi diante dos tanques do pátio de uma igreja. Sim, estes tanques são novamente os tanques batismais onde tive problemas na igreja que frequentei em BH. Em BH fui literalmente julgado perante a Igreja e "condenado" a batizar novamente, foi uma cena terrível para minha caminhada de fé em BH. É neste momento que meu carro quebra e eu não consigo progredir na velocidade que progredia antes.
// As cenas da minha infância bem como os conflitos de "matar ou não matar" são um reflexo dos conflitos internos que tenho vivido em minha fé desde as primeiras crises em BH. Em BH descobri muitas mentiras que foram contadas a mim desde minha infância a respeito de supostas verdade cristãs que "todos devem praticar" e que na pratica poucos realmente praticam. Isso tem gerado em mim uma seria dificuldade de interpretar a verdadeira caminhada de fé.. por isso vi tanta semelhança entre aquela emboscada cristã e minha infância, me vi na situação de ser emboscado e fugir por minha vida e me vi com um "irmão" emboscado e com a oportunidade de tirar sua vida.
// Em BH eu tive a oportunidade de participar de uma reunião de oração de uma igreja presbiteriana no bairro Buritis. Confesso que não conseguia orar em palavras por causa dos meus pensamentos no sonho que se misturavam com meu cansaço, mas la nesta reunião de oração eu me senti bem. Quando eu fechava os olhos para orar eu me via constantemente em um abrigo com mantimentos, cartas e mapas deixados por outros peregrinos. Foi ali que eu consegui ver um pouco melhor o papel da igreja como instituição no caminhar dos peregrinos. De fato a Igreja é quem está no carro com vc na sua caminhada, mas as instituições podem fazer 1 de dois papeis: fazer reféns e prendê-los com ameaças nas suas escolas/templos ou deixar um abrigo aberto com descanso e refugio para passar a noite. No primeiro vc vai estagnar sua caminhada, no segundo vc vai recuperar as forças durante a noite para prosseguir o caminho no dia seguinte de volta ao Pai.
Um comentário:
Poxa Ivo, que sonho você teve!
Obrigada por compartilhar comigo.
Meditarei nele.
Um abraço,
Aline
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