quarta-feira, dezembro 14, 2005

IPV (18/11/2005)

1ª Parte: "Pão de queijo enferrujado"

Acordei e levantei da beliche, tava um calor abafado. Graças a Deus tinha uma piscina no acampamento MPC, nem pensei muito e já tirei a camisa e fui de chinelo para a piscina.


Chegando lá fora lembrei das regras: “para nadar tem de tirar visto e provar que é brasileiro”.


“Droga” pensei eu. Voltei ao quarto, peguei minha carteira com os meus documentos e fui para a “fila da burocracia”. No final da fila estava o médico que iria olhar meus documentos, minha aptidão física e carimbar os meus papéis.


Por alguma razão eu e uma menina tivemos problemas com os nossos papeis, só que tudo foi rapidamente resolvido.


Com o visto tirado passei por todo aquele “ar respirado” até a piscina. Para minha vantagem, estava o Allan, Ana Claudia, Camila, Bruno, Pedro Cezar e Arthur dentro da água. Decidi então sentar com as pernas para dentro e o resto para fora.


Após a serie de comprimentos, começamos a conversar sobre uma doença que eu nunca tinha ouvido: xixi de ferrugem. Papo vai, papo vem, eu olho para o meu shorts e eu vi que além de ter feito xixi nas calças, o xixi estava enferrujado.


Quando todos viram eles falaram para mim procurar ajuda e sair de perto, antes que eu contaminasse a piscina, então fui procurar o médico.


O medico já tinha saído, mas achei a minha mãe conversando com alguns homens da igreja onde eu mostrei a minha situação. “não se preocupe, já tive isto antes...” um disse, “quando a gente voltar para Viçosa você vê isso lá.”


Isso me aclamou, então sentei num banco e comecei a participar da conversa dentro da cozinha onde todos estavam.


Depois de um tempo eu fui ver que onde o xixi manchou minha calça começou a crescer pão de queijo! Para o meu espanto todos a minha volta começaram a chegar e pegar um pão de queijo do meu colo e começaram a comer!


Só pensei em uma coisa “lespa!”...

2ª Parte: “Pastel com Caldo de Cana”

A igreja já estava voltando do acampamento, estávamos todos nos ônibus com apenas a estrada entre nos e Viçosa quando uma blitze nos para.

Entram uns vinte soldados armados dentro do veículo e o chefe grita “silêncio!”, limpa a garganta e pergunta “vocês são cristãos né?” Sem esperar muita resposta ele diz “pois é, vocês estão presos e serão levados a um campo de concentração. Faremos uma pausa durante a viagem onde deverá ser o suficiente e em viçosa vocês terão 12 horas para esvaziarem estas malas em suas casas, que serão confiscadas pelo governo, e voltarem ao ônibus.”.

Muito se levantaram para fazer perguntas, porém foram reprimidos pelas armas ameaçadoras dos soldados. Da viagem até a primeira parada só me lembro que os soldados tomaram os nossos lugares forçando-nos a ficar em pé a viagem toda e umas duas meninas me flertavam atrás de mim, porém tanto elas como eu fomos reprimidos, quase castigados por isso.

Na parada, os soldados cercaram as saídas do prédio e nos instruiu que teríamos poucos minutos. Entrei com pressa e pensei comigo mesmo “tenho que gastar todo o meu dinheiro aqui, antes que a gente saia. Não vou poder gastar isto em mais nenhum lugar!”.

Tinha 3 reais, vasculhei o lugar, tinha um coral de criançinhas preso no lugar como nós, e achei o Bruno e o Allan na mesma situação que eu. Os dois me chamaram, disseram que sabiam exatamente com o que eu iria querer gastar minhas ultimas gotas de dinheiro. Eles me impressionaram quando me mostraram uma lanchonete que vendia pastel e caldo de cana, onde eu tomei o conselho deles. Lembro que dentro da lanchonete eu orei a Deus perguntando porque ele fazia aquilo com a gente; em resposta ele me acordou com cachorros latindo lá fora.

Quando voltei a sonhar o ônibus tinha acabado de chegar em Viçosa. A cidade estava cercada por um muro e estava lotada de policiais e soldados. Enquanto passeava pelo centro, fui convidado pelo Paulo Sacramento e seu pai para fugir pelos portões da cidade mas recusei, achei perigoso demais, queria um plano mais bem elaborado. Encontrei o Pedro César que parou e conversou comigo.

Ele (PC) disse que já tinha gasto todo o dinheiro dele, só que sobrou R$40,00, ele me ofereceu para comprar uma bota, pois ele já tinha tudo que levaria ao campo e eu ainda queria comprar uma bota que o ele estava louco para me ver de “peão”. Eu aceitei o dinheiro e fui a Tabacaria Avenida.

Não achei em nenhuma loja. Enquanto procurava, eu achei meu pai que começou a conversar comigo:

“Meu filho, você ta sabendo dos ocorridos?”

“Sim pai” disse eu e continuei “mas eu mão sei se eu vou conseguir ficar no campo de concentração por muito tempo”

“Ivo, mas se isso está acontecendo, é porque Deus quer!”

“Pois é, mas se eu conseguir fugir, também é porque é a vontade dEle e se eu morrer tentando é porque também é a vontade Divina!”

“Está certo Ivo...” disse ele enquanto me acordava as 6:00 da manhã para as ocupações do dia.

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