terça-feira, fevereiro 03, 2015

Dois Cães na Memória



Após uma estranha batalha de foices no escuro entre adolecentes, em uma guerra cheio de intento de sangue e nenhum derramado. Apos vasculhar, entre as construções que ignoravam nosso campo de batalha, pelas nossas armas que se perderam, isso é, as minhas e as do Felipe, meu parceiro na batalha. Após roubar ferramentas da construção (abandonadas ou não) para usá-las para morte e destruição.. instruções de onde comprá-las, conselhos vãos e retorno solitário para a viagem. Aí, somente neste contexto poderei descrever o que se passou em meu sonho.

Eu viajava em meio a selva com uma menina. Possivelmente uma irmã(?), uma companheira(?) da qual o rosto não me recordo. Selva densa que não abria passagem.. um rio enorme cruza nosso caminho. A roupa, que ia de bota a casaco, apenas acrescentava ao peso de nadar em meio a correnteza cruzada.

Nadando, progredíamos lentamente a largas braçadas.

Em meio a toda força da correnteza algo nadava também. Preocupadamente, um coitado de um cachorro lutava contra a natureza que a tirava pouco a pouco a esperança. Assuviei, chamei... me parecia familiar o cão.

"Caramela, Caramela!!" Gritei ao reconhecê-la. "Vem cá Caramela, sou eu! Vou te levar comigo, está tudo bem eu prometo!". Meu coração apertou.

Ela me ouviu..? Estava tão velhinha coitada, não sabia se conseguiria me ver ou me ouvir. Era um milagre estar nadando assim. Virou a cabeça em meu sentido e eu seguia em direção ao dela com mais força em meus braços, a minha companheira me seguia.

Abracei-a e no outro lado do rio eu matei minha saudade com todos os abraços que pude dar. Chorei? Não sei.. Estavamos emocionados.

"Te levarei comigo, vc ficará bem Caramela, eu prometo." eu dizia emocionado "Te levarei ao Egito comigo, lá faremos nova vida.".

Tomamos acento de frente a uma fogueira, nos cobrimos para a noite que se extenderia. Caramela e eu em braços trêmulos, mútuos nos acalmamos e dormimos.

Acordei na roda. Os meus olhos se abrem e não a vejo mais, Caramela se foi. A minha companheira me ajuda a procurar. E nenhum sinal de cão por todos os lados.

"Caramela! Caramela!!!" Gritei e gritei. Procurei em todo canto.

"Eu prometi para ela que ela ficaria bem e eu cuidaria dela" dizia a minha companheira em meio aos consolos dela. Meu sonho me poupou de ver o sofrimento e a angústia de ter de partir sem a minha companheira canina. Ao invés disso o sonhho me levou meses adiante.

...

Andávamos maravilhados com aquelas construções. Se as que vimos no caminho eram impressionantes, quanto mais as que veríamos no Egito! Desertos com rios, monolitos sem espírito, ceus vastos sem nuvens e finalmente.. Egito! Chegamos a uma ponte que cruzaria o nilo em uma região desértica.

Olhamos maravilhados com as construções que nos esperavam do outro lado, antigas e magestosas. Atraentes aos olhos e firmes para os pés! "Como pode haver tanta água no deserto?" eu me perguntava silenciosamente ao olhar o rio.

Enquanto adimirava as curvas da água e das pedras que a acompanhavam eu percebi um filhote de cão nadando e latindo para sair do rio. Um puxão no ombro e um chamado "Vem, vamos entrar, é o Egito! Finalmente chegamos! Há tantas casas e moradas por aqui. Talves podemos encontrar a nossa!".

Cruzei a ponte e andei pela cidade. Meu sonho me poupou das horas que se seguiram de ver construção após construção.. Para meu peito aquilo tudo foi somente um momento que passou com um sopro, e ao virar as minhas costas para a cidade e voltar pela mesma ponte ao deserto, me voltava a desesperança neste mundo. "Não sou cidadão daqui" é a única coisa que me vem a mente ao resgatar a memória do Egito.

Do outro lado da ponte, ouvi os mesmos latidos de quando entrei na cidade. Corro para o rio quando vejo que o mesmo cão estava nadando a horas para não se afogar. A minha consciencia me esmagou com o peso das pirâmides que deixava para traz ao perceber que eu abandonara o pobre cão por horas para se afogar nas águas do nilo. Não me deixei nem o privilegio de tirar a segunda camada de roupa de frio que mergulhei na água e trouxe o pobre cão, preto e desesperado, da sua morte para a vida.

Minha companheira me ajudou do lado de fora do rio.

Ela tentou secar o pobrezinho em sua roupa que estava seca... Memórias me vinham a mente. Aquela era a Tiana? A mãe da caramela! Sim era ela! Meu Deus como fui estúpido de deixar ela aqui na água por tanto tempo!

O sonho prosseguiu com algumas breves cenas de buscarmos toalhas e descobrir o caminho que seguiriamos pelo rio com outros. Eu e minha companheira nos distraímos com a busca pela toalha e com as pessoas ao redor. "Onde está a Tiana?" perguntei.. quando percebi que nem em meus braços nem nos dela.

Se nós nos distraímos com tanta gente e movimento, quanto mais a pequenina deve ter se distraído! "Tiaaaaana! Tiaaaanaaaa!" gritei e gritei.. alguém a traria de volta?

// Na vida real Tiana era malhada, porque será que em meus sonho a Tiana era preta?

Nenhum comentário: