// Sonho do dia 25 de julho durante a pausa do almoço - Teófilo Otoni, Minas Gerais
Ela descia do carro... buscou as chaves na bolsa para abrir o portão de ferro. Sua casa era numa rua inclinada, com uma árvore ao lado da entrada mais utilizada. O carro ficou na diagonal com a porta entreaberta para dar passagem a outros veículos pela rua enquanto ela distraída gastava o seu tempo para não deixar o carro na rua.
// Esta é a entrada da minha casa em TO.
Enquanto ela ainda olhava a bolsa, descendo pela parte alta da calçada um rapaz de porte alto e moreno e cabelos cortados e penteados se aproximava. Ela era baixa, cabelo cor de rosa solto, com tatuagem e percinge como heranças da sua adolescência.
// Alguns poderão reconhecer os personagens..
Eles se conheciam, mas ela não viu ele se aproximando... por um segundo o sonho parou e ao retomar os meus olhos ele estava colado nela, talvez próximo demais para uma pessoa bem intencionada. De fato meus olhos na hora se atinaram para a direção que suas mãos e sua boca se dirigiam ... ... ao mesmo tempo não me escapou a reação de repulsão que ela demonstrava com seus membros.. o que os meus olhos me mostravam? Não era exatamente aquilo que acontecia...
Seus braços empurravam a cintura dele para trás, mas porque o seu rosto se inclinava para frente?
Um pé se colocou para trás, mas porque o outro se colocava por entre as pernas dele?
Os ombros se recolhiam, mas porque os seus lábios foram em direção aos dele?
Imediatamente eu saio da minha posição de expectador e começo a gritar.."O que é isso? Luciana* ele está te mexendo com você?" Eu estava furioso.. "Não não Ivo.. não faça nada com ele." era o que ela falava enquanto ele se virava e fugia e ela abaixava a cabeça com vergonha. A cena se dissipava aos poucos...
O que me pareceu ser alguns minutos depois, eu estava no telefone com o Daniel*. Depois de uma longa discussão com ele lhe expliquei que nunca toleraria ver alguém molestando um amigo.. isso incluía ele! Não no jeito que você leitor está pensando, digo, não toleraria ver uma pessoa molestando o Daniel da mesma maneira que não tolerei ver ele molestando a Luciana... "eu seria capaz de rasgar a pessoa no meio" eu pensava enquanto minha boca dizia palavras bem mais amenas.
// *Nomes fictícios para os dois personagens da cena.
A tempestade de areia interna se acalmava aos poucos após a ligação...
Descendo da mesma rua que o Daniel descera veio uma menina, talvez a metade do meu tamanho de vestidinho e laço no cabelo. Sua mãe vinha logo atrás com seu irmão ainda no colo.
Eu me abaixei e me voltei para ela "o que você acha do que eu fiz por você?". Ela pensou olhando para os pés e disse "acho que você tem de ser mais calmo..." dizia sem aprovar e nem desaprovar.
// Na verdade no sonho ela disse "menos estressado", mas eu tomei para mim este significado.
Quando ela disse isso ecoava em minha mente e no meu olhar buscante "mas ... mas eu fiz isso para te proteger!?!? " e outras coisas mais vinham para inquietar a minha mente, enquanto o sonho se dissipava novamente para não mais voltar.
// Esta cena me diz bastante sobre mim. Os personagens são muito bem definidos e claros: Luciana é a minha sexualidade, Daniel representa a minha vontade e o presente, a menininha é a minha inocência; você poderia pensar ne menininha como uma irmã do coração(o menininho de colo, reclinado sobre o peito da mãe é o coração). Eu percebi que a Luciana luta contra a vontade, mas nem tanto.. no fundo ela quer que o Daniel a alcance e a satisfaça e por isso a contradição em seus atos. Quem não está nesta luta? Luta que quer ceder e viver o proveito das vontades?
// Eu brigo contra a vontade, mas mesmo assim, no telefone fui capaz de mostrar ao Daniel que ele é meu amigo e que eu quero proteger ele também... mas ele constantemente está tentando molestar alguma parte de mim! A vontade é uma coisa que deve ser protegida sim! Mas ela é constantemente o assaltante das partes mais e menos vulneráveis do nosso ser. Você jé percebeu que a vontade constantemente ataca e molesta a si mesma? A vontade é um cão teimoso e difícil de se lidar!
// Quando a vontade se encontra com a sexualidade indefesa, é neste momento que eu não posso ficar como expectador, pois quem está em risco é a inocência... mas porque a inocência não ficou feliz? Não me agradeceu? Será que ela, como a sexualidade, quer ser tomada pela vontade? Acho que não.. alias, espero que não... se assim fosse haverá alguma parte de mim a que vale apena zelar?
// Quero acreditar que a queixa da inocência foi que ao sair da cadeira de expectador eu não me permitia ser inocente ou viver a inocência... de fato ao me posicionar como um protetor feroz da inocência eu não deixo ela correr em meu sangue. No lugar da inocência sou tomado pelo furor, pela consciência da maldade e pela contradição..
// Viver a inocência é realmente um mistério... se lutamos para mantê-la, não a vivemos, se nos deixamos na cadeira de expectador ela é indefesa por si só. Quem irá protegê-la? Esta é a minha oração: "Pai, tome o meu coração, como uma mãe toma uma criança de colo no peito. Proteja a minha inocência como um pai que zela pelos seus filhos. Amém!"
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